04/10/2021
O câncer na infância e na juventude tem peculiaridades quando comparado com outras faixas etárias, o que envolve fatos muitas vezes desconhecidos.
A conscientização sobre esta causa nunca é demais! Confira abaixo a entrevista com o Dr. Jairo Cartum, carinhosamente considerado padrinho do Big Riso.
Dr. Jairo é professor responsável pela Oncologia Pediátrica da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), mestre e doutor em Medicina pela USP na especialidade de Oncologia Pediátrica.
“Um grande tabu sobre o tema é ao receber o diagnóstico de câncer, as famílias acharem que tudo acabou. Na década de 1970, isto realmente acontecia, quando apenas 20%cdas crianças se curavam. Hoje 80% das crianças são passíveis de cura, em consequência dos avanços da Medicina. O inverso das décadas anteriores! Os tratamentos também são mais efetivos e com menos desconforto”.
“Ele se manifesta como uma doença típica da infância, mas sem causa. A principal característica é que esses sintomas se mantêm e pioram ao longo dos dias, devendo ser investigados, e, neste caso, em minoria, o diagnóstico é câncer. Por isto também são tão necessários os acompanhamentos de rotina com o pediatra”, comenta Dr. Jairo.
São sinais de atenção, desde que se mantenha e piore:
- Dor abdominal ou em membros superiores/inferiores
- Dor de cabeça
- Febre
- Manchas roxas pelo corpo
- Sangramento
- Anemia.
- E/ou vômitos persistentes
“A leucemia corresponde a ⅓ dos tumores da infância e juventude. O segundo mais prevalente na infância é o tumor cerebral. E o terceiro é o linfoma. Mais da metade das crianças com câncer, tem um tem desses três tipos”, diz Dr. Jairo.
O médico explica que a tríade da leucemia, câncer mais comum nos pequenos, é caracterizada por uma anemia - com sinais de cansaço e palidez, febre, além da apresentação de manchas roxas pelo corpo e eventuais sangramentos.
“Vale lembrar a taxa estimada de cura é de 80%”, finaliza.
3) O câncer nesta faixa etária é diferente e mais grave do que em adultos? VERDADE.
“97% dos diagnósticos de câncer são para adultos, e apenas 3% para crianças. Enquanto 1 a cada 4 adultos desenvolverá câncer na vida (incidência bastante elevada), nas crianças este número é de 1 para 600. Além disso, o tipo é muito diferente, já que na criança o tumor cresce muito rápido e chega a duplicar de tamanho uma vez por mês”, comenta.
Outro fator levantado pelo Dr. é que a taxa de cura e resposta das crianças ou jovens é muito mais elevada do que no adulto. As células mais jovens se multiplicam muito mais rápido devido à etapa de vida, o que as tornam tão sensíveis ao tratamento e também à recuperação do paciente.
4) O câncer infantojuvenil está ligado sempre aos fatores hereditários? MITO.
“Pouquíssimos cânceres infantojuvenis têm este caráter hereditário (passagem dos pais para filho) - o exemplo mais característico é o retinoblastoma (câncer da retina/olho), em que o gene do tumor pode se manifestar nos filhos em 50% dos pais afetados pela doença. Aqui é muito importante diferenciar o genético do hereditário. Hereditário é o que passa de geração em geração e genético é uma doença no gene. Portanto, o câncer infantojuvenil é uma doença no gene. Por exemplo: quando temos um ferimento, a pele se multiplica até cicatrização. Já no câncer de pele, a célula se multiplica e multiplica sem razão alguma: um erro de gene”, explica.
Em outras palavras, na criança, a alteração já vem de nascimento, porém no adulto há também a exposição da célula ao fator ambiental agressivo, que poder ser um gatilho para desenvolver o câncer.
5) O câncer é contagioso? MITO.
“De forma alguma esta doença é contagiosa! Ter contato com alguém que está com câncer não gera câncer na outra pessoa. Tudo isto é um fator genético. Em adulto, um gene com ‘qualidade inferior’ está geralmente associado a um fator ambiental, que pode ser desde uma radiação solar, a ingestão de álcool, um vírus (como no caso do HPV em carcinoma de colo de útero, mas é por isto que nem todo mundo que tiver contato com este vírus terá câncer de colo de útero, devido também à predisposição genética)”, pontua.
6) A criança e o jovem em tratamento quimioterápico não podem comer alimentos crus? VERDADE.
"A principal causa de óbito em criança oncológica é infecção, já que a doença apresenta alta taxa de cura. Como o tratamento quimioterápico é intensivo, a criança fica com baixa defesa e o infecção é alto. Consequentemente, alimentos não cozidos, com casca (mesmo lavados), ou falta de higiene (como não lavar a mão), podem gerar infecção na criança”, esclarece o médico.
O hábito de lavar a mão pode salvar vidas, conforme reforça.
7) Pacientes mais jovens em tratamentos quimioterápicos não podem ir à praia e à piscina? VERDADE.
“A água de piscina/mar pode estar contaminada e a exposição direta ao sol pode ser um fator de agressão à saúde da criança, o que aumenta o risco de infecção grave. Durante tratamento de quimioterapia é contraindicado”, diz.
Para finalizar, os esclarecimentos do Dr. Jairo Cartum são:
“A vida da criança não pode parar neste meio tempo! Não confie no ‘Dr. Google’, só uma equipe de saúde pode aconselhar, pois para o ‘Dr. Google’ tudo é igual e coisas raríssimas são frequentes - o que cria ansiedade, angústia. Cada criança é diferente e portanto é importante não comparar a evolução desfavorável de uma criança com outra diagnosticada agora.”
"A rotina diária de vida de uma criança durante o tratamento deve ser mantida (na medida do possível), pois o tratamento é longo e é necessário manter a saúde mental dos pequenos também."
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