Medo de palhaço: como lidar e o que há por trás?

 19/04/2021



Longe de raiva ou intolerância ao palhaço, o medo expressado vem da história de vida”, explica o psicanalista e voluntário do Big Riso, Marcos D. Paula


O psicanalista, apresentador do programa “Falando de Gente” (web rádio Baruk FM) e voluntário há 8 anos do Big Riso (como o palhaço Ribas), Marcos D. Paula, nos explica o que há por trás do medo de palhaços e como lidar com a fobia ao longo das visitas.

Confira no texto abaixo e na versão completa em áudio.

Acompanhe outras vivências dos nossos voluntários na aba “Depoimentos”, aqui, no blog do Big Riso.


1. O que explica o medo por palhaços? 

O primeiro fator, até mesmo para quem não estuda o comportamento humano ou está envolvido com a psicologia, consegue deduzir: 

"o palhaço, com seu sapato grandão, roupas bem fora do normal, nariz vermelhão, em suas cores, pintura e exageros, passa à criança a imagem de algo fora do normal, fora do contexto." 

Quando a criança é muito nova, ela se assusta mais pelo aspecto visual, sem dúvida nenhuma. Agora, quando já é uma criança após os 4-7 anos, muitas vezes também tem um receio neste contato com o palhaço por uma experiência negativa. Como exemplo, se ela viu alguém fazendo careta e depois brigando e associou isso a um clima de mal-estar, ou então ela viu um determinado trecho de um filme onde o palhaço aparece como alguém malvado . 

E lógico, a criança, principalmente na sua primeira infância (quando está muito suscetível a estas sensações e emoções), acaba internalizando de forma muito forte. Ao ver uma imagem de palhaço, automaticamente, a memória dela reproduz este mal-estar, desinteresse, medo e esta certa angústia à proximidade de palhaços. 

2. Coulrofobia é o nome da fobia de palhaços. Há distinção entre o medo e a fobia, neste caso? Qual a gravidade de uma fobia?

Existe uma diferença entre medo e fobia. Ambos precisam  de atenção. Sendo que a fobia requer um tratamento maior, pois está em um estágio bem superior de medo, é consequência de um trauma.

O medo é um mecanismo que nos ajuda a evitar um mal maior. Ajuda para que tenhamos uma postura até preventiva de não correr um risco maior ainda em uma situação iminente e que signifique perigo. O medo proporciona este freio para contornar situações. 

Já a fobia faz com que a gente se sinta imobilizado, incapaz de tomar qualquer atitude. Entramos em uma situação de desconforto e mal-estar. Por mais que queiramos, não conseguimos tomar uma atitude para amenizar o perigo. 

A fobia causa mal-estar, assim como o medo. Mas o medo você consegue contornar situações e superar. Só que a fobia não, ela se instala de forma diferente: por mais que se queira, não se consegue. 

"Geralmente a figura do palhaço é uma questão de medo. A figura não traz/provoca bem-estar para aquela criança, então a pessoa levanta da cadeira e sai correndo ou a criança começa a chorar, vira o rosto e fica agarrada na mãe. 
Já na fobia, é algo mais sério, os mal-estares são diversos: sudorese, dor de cabeça, ânsia de vômito ou dor em alguma parte do corpo." 

3. É possível reverter a origem/raiz desta fobia, de modo que o indivíduo se conecte normalmente com palhaços?

A orientação é que a pessoa realmente se permita trabalhar psicologicamente. Pode ser uma psicoterapia breve para ressignificar e fazer uma leitura desta fobia, por exemplo.

À medida em que ela vai conseguindo descobrir as conexões, as origens desta fobia, ela consegue sim construir a experiência com o palhaço de uma maneira não mais agressiva. 

Nós, como voluntários, jamais devemos nos aproximar ainda mais desta criança ou adulto com medo. Não insista com um “não, espera aí. Vim aqui para brincar com você” ou “olha o meu óculos gigante”. 

"Sutilmente você se afasta e sai do campo de visão daquela pessoa. A criança/adulto tomou um choque com sua chegada e para reverter isto não é tão simples assim." 

A sugestão é retirar-se para não agravar o quadro.

4. Para os voluntários do Big Riso que se depararem com uma criança que tem pavor de palhaço, o que é recomendável fazer? Há algo mais que poderia ser feito além de se afastar?

A sensibilidade do voluntário precisa estar bem aguçada ao longo da visita, para que esteja atento a qualquer situação de desconforto. É preciso também bastante calma para lidar com estas situações. 

"E, principalmente quem se propõe a ser voluntário e trabalhar no hospital como palhaço, tem que necessariamente se preparar bem! Não só nos protocolos de higienização, como entrar em cada quarto, como sair, mas neste lado comportamental também." 

Procurar entender melhor como é esta dinâmica de aproximação junto aos pacientes, junto aos acompanhantes, junto aos demais profissionais que trabalham no hospital.

Dá para entender muito bem o porquê algumas pessoas ficam neste mal-estar quando veem um palhaço. Lógico que você tem o cuidado de se retirar, não é? Tudo com muito cuidado e nada de movimentos bruscos ao sair do campo visual da criança. Mas é o melhor para não provocar um desconforto maior, nem para a criança e nem para o adulto.

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