Como contar histórias em hospitais?

19/07/2021

Que tal aproveitar esta parada temporária das visitas  aos hospitais por conta da pandemia para desenvolver novas habilidades? 

Há pouco tempo, publicamos a dica da voluntária Viviane Urquisa (palhaça Coracilda) sobre a importância e benefícios em contar histórias também no ambiente hospitalar. Hoje, em continuação ao conteúdo, você confere como se preparar e as melhores dicas para a contação de histórias nos hospitais. 

Acompanhe o audiopost e a versão em texto desta matéria.


1 - Que dicas você dá aos voluntários que querem contar histórias  nos hospitais?

Primeiramente, gostar de história! Não adianta você falar de uma coisa que não goste. Então, tem que gostar de ouvir e contar histórias. Para quem está ouvindo, sairá mais suave, mais gostoso. E jamais decore! A gente não sabe qual será a reação de quem está lá (o paciente, a família). Às vezes você pode ficar nervoso, tenso e “batata”: vai esquecer alguma parte da história! E se está decorada, para lembrar...

Não leia a história! É muito chato você ficar ouvindo a pessoa lendo aquela história que não entendeu nada, né? Quem está ouvindo falará: "nossa, nem estudou a história. Não sabe nem o que está falando e vem aqui me visitar. Que coisa chata, hein?". Agora se você sabe a história, tudo bem. Você lê uma frase, lê outra ou alguma palavra que você esqueceu. 

Por exemplo: contarei uma história que fale sobre cozinhar, fazer comida e eu levo uma panelinha, uma colher de pau para incrementar. Use coisas que chamarão a atenção.

Tenha sempre a técnica do improviso. Isto é bom demais! Não deu certo ou você esqueceu o que falaria, aí inventa alguma coisa na hora. E sai muitas vezes mais legal do que o que estaria na história. A ideia é fazer com que eles deem risada, seja mais divertido. 

E quando a gente está nervoso, a gente fala muito rápido, né? E quem está ouvindo, às vezes não está entendendo. Então você precisa ter clareza naquilo que está falando e não sair atropelando as palavras com pressa para acabar a história, porque a pessoa presta atenção mais no nervoso do que na história, né? Eu já tive muita tremedeira para contar histórias, mas isto a gente vai treinando e por isto que é sempre bom estudar a história antes.

2 - Neste período de pandemia, como o voluntário pode treinar em casa para ter bom desempenho no hospital?

Treine com os familiares ou conte para alguma criança antes. E quando contar a história em casa, peça opiniões e sugestões para quem você contou, porque sempre alguém tem algo a acrescentar para você. São dicas valiosas! 

Agora, na pandemia que nós temos mais tempo e ficamos mais tempo em casa é um momento para preparar como vai ser a volta às visitas. E se for contação de história, antes de tudo, escolha bem o tema.

3 - Como este voluntário interessado pode selecionar as melhores histórias para contar? Há algum tema para evitar ou investir nesta seleção?

É bom verificar a intenção daquele tema, porque eu contarei aquela história? Sempre procurar uma que tenha motivação, uma história que narre coisas positivas, boas e que tranquilize as crianças. Para também ajudar a treinar a autoestima, porque às vezes há crianças que perderam um bracinho ou uma perna, é com o que a gente se depara visitando hospitais de oncologia. 

Histórias que ajudem no seu referencial de pessoa e não uma história, por exemplo, da Branca de Neve e que a Branca de Neve é linda e maravilhosa. Não! E sim que mostre algo como nós somos seres humanos, e a realidade. 

Algumas crianças estão longe de pai e mãe, então se sentem abandonados, solitários, excluídos da família. Então, por exemplo, a história do Patinho Feio: é uma história de exclusão, né? A família o excluiu  porque ele era um pouquinho feio. "Mas é uma história que tem um enredo bonito. O final é feliz". Sim, mas é um tipo de história que devemos evitar contar no hospital. E nunca falar sobre morte ou doença. 

Então qualquer palavra que tenha no seu livro fará a diferença. Não é nem a intenção do texto, por exemplo: aparece a palavra "feio". Aí a criança estava se sentindo feia, prestará atenção só naquela palavra "feio" e o resto ela não vai dar importância. 

É necessário uma fala clara e um olhar acessível a quem está nos ouvindo para você perceber se está legal ou não. É um momento que você tem interação com o paciente, então você aproveita para captar os gestos da pessoa e o que você pode fazer ou não ali no momento. Aproveite este instante para, no fim, ganhar um sorriso e um “muito obrigado(a) por você ter vindo aqui!”.